(Parte 3) Sobre Intercâmbio: Chegada, Adaptação e Retorno

SOBRE CHEGAR, PERMANECER, VIVER A EXPERIÊNCIA E IR EMBORA

A CHEGADA NO LOCAL DE TRABALHO/ESCOLA/UNIVERSIDADE
Esta parte é quando você se dá conta que todos processos vão ser diferentes do seu país, até nas coisas que você achava que seria parecido. Chegar na universidade e ser recebido como "calouro internacional", os turnos diferentes, créditos a mais ou a menos, aulas separadas em práticas e teóricas, aulas fantasmas pq não são presenciais, aulas com 30 alunos ao invés de 130 pq o professor é difícil de lidar e entope matéria, conhecer os gringos do novo curso de línguas, se enturmar com mexicanos pq sabe espanhol, só ter brasileiros na turma, gente que sabe mais que você, gente que sabe menos, descobrir que não pode faltar aulas e degolar a % de faltas, entender as regras da escola,  saber sobre as necessidades do seu novo local de trabalho, trabalhar com gente boa, trabalhar com gente ruim, fazer turno a mais, fazer turno a menos, salário a mais, salário a menos, salário que não vem. Tudo depende de qual experiência você vai desejar ter lá fora. Por isso, quando estiver escolhendo o programa que vai fazer, pense nesta parte: com que população você quer se envolver? Turistas? Nativos? Estrangeiros? Famílias? Trabalho?


A ADAPTAÇÃO À LÍNGUA E A CULTURA
Vou lembrar você que antes de fazer todo este processo que está descrito ali em cima você DEVE ter consciência que um intercâmbio vai SEMPRE significar sair da sua área de conforto. Viver novos hábitos, conhecer novas pessoas, errar, aprender, errar de novo, se sentir sozinho, se sentir acompanhado de gente que você nunca tinha visto antes, pensar como raios você teve coragem de fazer isso, sonhar com o colchão que você tanto gosta da sua casa, ter saudades dos amigos que deixou lá atrás, experimentar comidas deliciosas e outras que te darão nojo e/ou dor de barriga, dormir em lugares estranhos e outros que parecem a casa da tua vó de tão confortáveis,  ir pra festas loucas e inesquecíveis e sair e voltar decepcionado com a night e os costumes que você não conhece,  enfim... fazer um intercâmbio exige que você tire as viseiras e esteja disposto a enxergar mais longe. Você só vai sofrer se resolver trocar o sofá da sua sala por outro do outro lado do mundo e viver as mesmas e exatas coisas que faz todo santo dia. Então, se for pra ir, vá com a mente aberta e disposto a viver todos as dores e delícias que um intercâmbio vai te dar. Pq nem tudo são flores, nem na Europa, nem em lugar nenhum.
O começo é difícil. Independente do caminho que escolher, você vai sim ou sim encontrar gente de todas as variáveis e todos os tipos possíveis na sua caminhada. Aproveite para aprender mais sobre o mundo e sobre as pessoas e olhar para bem mais além do seu próprio umbigo.
 A realidade, num intercâmbio, se vira e se desvira de tantas maneiras que é impossível voltar imune ao mundo e à diversidade. Costumo dizer que se viajar abre portas, o intercâmbio abre um mundo.
Não mantenha hábitos que você tinha. Procure conhecer costumes locais, sair para tomar um café, ler um livro em um parque, ir para lugares onde você possa ver um por do sol diferente. De novo: mantenha-se aberto à todas as experiências possíveis. Se você fizer isso e conseguir se desgrudar de casa e realmente viver a experiência, lá pelos três meses você já vai estar acostumado à um novo ritmo de vida e à nova cultura. É mais ou menos depois deste tempo que você abandona coisas mais arraigadas como se despreocupar com a segurança e andar tranquilo, por exemplo, que para nós, brasileiros, é um afeto escroto que acompanha a vida desde sempre. Um afeto difícil de deixar guardado na mala...E como é bom viver sem ele!
É aqui que o intercâmbio começa a ficar bom DE VERDADE. Não que não fosse antes, mas agora, com mais propriedade da cidade onde mora e amigos bem dispostos, é quando você vai viver mais e melhor a cultura local, uma vez que as dificuldades com a adaptação já são bem mais flexíveis.
Com seis meses, você já é um exímio morador daquela que é sua nova casa. Já conhece os melhores points, mercados, restaurantes, bares e festas e tem um grupo de amigos com quem conhece mais a cada dia, e também começam as despedidas de quem veio estudar só um tempo.
No semestre seguinte já poderá ser uma vida diferente, embora com menos dificuldades culturais. Eu gosto de recomendar que a pessoa fique um ano no mesmo local pq territorialmente é muito mais tranquilo se deslocar depois que todas as questões iniciais de "sem casa e sem curso" são resolvidas, mas obviamente a experiência de ir pra outro lugar começar outra vida do zero tem suas peculiaridades e delícias também.

A VOLTA E SUAS COBRANÇAS
Aqui quero te deixar um conselho muito útil: lembre-se que você saiu do seu lugar, conheceu outras culturas, vários países, pessoas e mundos diferentes. As pessoas que ficaram, geralmente cultivaram os mesmos hábitos, não viram nada muito diferente, continuam no mesmo emprego e saindo com as mesmas pessoas, um ciclo comum da vida rotineira. Se você pensar em voltar por saudades dos seus amigos e familiares (em qualquer momento do caminho)... não volte, pq exceto aqueles amigos que você levará para a vida inteira (são poucos e estão contigo mesmo que tu atravesse o oceano) e sua família, pode ser que o que você construiu e viu tenha te tornado tão mais potente que várias coisas não sirvam mais, inclusive amizades de anos.
Saudades você mata e a vida continua igual. Você saiu, cresceu dez anos. Viu e viveu em outro mundo, outra cultura, outras regras. Quando voltar, as pessoas continuarão exatamente nos lugares que estavam antes de você ir. A maioria delas, por "n" motivos, não terá feitos grandes movimentos de vida para acompanhar o seu e inevitavelmente, a vida vai colocar um filtro em tudo que existia antes e tudo que virá a existir após o seu intercâmbio.
É um caminho sem volta: você antes do intercâmbio, você depois do intercâmbio. Absolutamente nada volta igual pq você mudou de eixo. Você saiu do seu sofá para lugares desconhecidos e de cada um levou alguma coisa, não tem como voltar igual e continuar saindo de casa com a mesma visão anterior. Entendeu essa parte? Pois bem. Exceto a questão da segurança, que volta a atiçar a gente no primeiro passo na escala em São Paulo, todas as outras questões tardam um tempo em se acomodar novamente. Você se readapta à comida ou não come batatas durante um ano pq comeu demais. Reencontra amigos e fortalece os laços ou acha que aquilo não tem mais nada a ver com você. Se desfaz de roupas e tralhas que não fizeram a mínima diferença na vida neste um ano que você morou fora. Mantém hábitos como tomar um café com os amigos e comprar bebida e deixar em casa para não ficar sem. Se readapta à sua rotina de estudos e pode contar como era vista de outra perspectiva.
Novos eixos, novas perspectivas, territorialização, desterritorialização.
Nunca falei com alguém para quem o processo de volta tenha sido simples ou fácil. Muitos nem voltam. Eu mesma, costumo dizer que voltei em partes. Tenho minha vida "rotineira" e um emprego em psicologia e saúde mental que amo, mas a experiência do intercâmbio me mudou tanto que até hoje eu vivo parcialmente na mochila. Chega um momento (geralmente a cada três ou quatro meses) que eu simplesmente PRECISO ir pra algum lugar que eu não conheça ou que eu queira conhecer de outras maneiras das que conheço. E então eu pego minha mochila e vou, "sozinha, pro mundo", costumo dizer, mesmo que o mundo seja uma cidadezinha aqui do lado. Gasto todas minhas economias viajando e nunca me arrependi. Foram raras as experiências que ouvi nesse mundão de pessoas que tivessem ido (de verdade) e se arrependido. Na maioria das vezes elas se arrependem é de ter voltado ou usam todas possibilidades viáveis na vida rotineira para ir de novo, que seja para ver o mundo ali do lado.
Acho que todo mundo que vai para um intercâmbio corre esse risco. De ir e não voltar ou de voltar em partes. O meu eu que voltou deste intercâmbio nunca mais foi o mesmo de antes de embarcar. O mundo que eu vi, ouvi, vivi e senti é grande demais. E eu nunca me arrependi de voar e ir conhecê-lo de perto.



SEJA LÁ O PROGRAMA QUE VOCÊ ESCOLHA... VÁ FAZER UM INTERCÂMBIO.


E volte aqui pra me agradecer pelo conselho e me contar sobre as dores e delícias que você descobriu neste mundão! :)

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